quarta-feira, janeiro 28, 2015

Desconstrução do Discurso

Por Mara Kramer
O cenário político vivido pelos brasileiros nos últimos 12 anos (2002-2014) foi marcado pelo silêncio da oposição e hegemonia da situação. É verdade que em ambos os lados houve altos e baixos. Na descoberta do Mensalão e nas eleições para presidente de 2010, e, sobretudo de 2014 a oposição teve uma atuação mais intensa, mas durante o restante do período, especialmente no segundo mandado de Lula, o ex-presidente chegou às raias da sacralização por boa parte da população. Em minha opinião, o destaque alcançado por Lula apoia-se, principalmente, em três aspectos: na ausência de escrúpulos do petista, que não tem constrangimento nenhum em mentir, distorcer, inverter a realidades e palavras da oposição o que o torna um péssimo exemplo de político; na inexistência da construção de um discurso político de oposição que chegue a todos os brasileiros; e na construção eficiente do discurso petista (baseado no manual esquerda/populismo) reproduzido por mais de duas décadas.
O discurso petista, que tem como porta-voz–mor o ex-presidente, se apoia basicamente em um único argumento: o descaso da elite e seus governos com os brasileiros pobres. Esta máxima baseada no desgastado e ultrapassado conceito marxista da luta de classes foi, e sempre será (pois eles não têm outra), utilizada para justificar e explicar todas as ações do partido, e do lado contrário, todas as ações e falas da oposição. Tal discurso tornou o partido da situação, para as camadas mais baixas da população e para a dita esquerda, no “salvador da pátria”, simbolizado por seu líder.
 
Logicamente, o discurso petista tem algumas bases legitimas como a origem de Lula e a continuação do programa idealizado e iniciado por Ruth Cardoso, o Bolsa Família, mas todos sabemos que os avanços sociais no país param por aí. Os demais índices caem, os casos de corrupção avolumam, a incompetência dos últimos governos em todos os setores é gritante e traz ao país grandes prejuízos de toda a ordem, porém Dilma parece ter ganhado novamente as eleições (me expresso assim pela desconfiança de fraude). Por que?
 
Durante os últimos anos o discurso petista não teve concorrência, e foi reproduzido em uma intensidade avassaladora. A ideia de que foi Lula/PT o promotor da melhoria de vida dos mais pobres; que os governos anteriores, da elite, nunca fizeram nada pelos mais carentes, o que explica, segundo o PT, o “nascimento” do país no primeiro governo Lula; a ideia que apenas Lula/PT, por ser um partido que não pertence à elite, é capaz de entender e ajudar as classes mais humildes; que a elite jamais fará algo em prol dos mais pobres, argumento que justifica a manutenção do confronto entre classes; que os demais partidos são de ricos, e, portanto, beneficiarão apenas os ricos; ou a ideia que as privatizações realizadas por FHC beneficiaram as grandes empresas (elite) em detrimentos dos mais pobres, entre muitas outras participam de um discurso que além de reduzir à luta de classes uma realidade complexa (o que por outro lado facilita para a grande maioria o entendimento desta mesma realidade), em muitos casos é falso. Entretanto, foi através da repetição deste argumento simples (confronto entre ricos e pobres), e de uma linguagem acessível, pois expressa por um “deles”, que o PT introduziu no inconsciente coletivo da grande massa a ideia de que ele é o único partido que tem legitimidade de gerenciar o país, pois é o único compromissado com a massa carente, e consequentemente, os demais partidos por pertencerem a elite, não apenas estão descompromissados com os mais pobres, como no governo beneficiariam os ricos. Assim, todas as suas ações, meritórias ou não, devem ser entendidas como um meio para alcançar seu objetivo, qual seja, enfrentar as pressões contrárias da elite para a obtenção de benefícios para os mais pobres.
 
Muitos sabemos que as ações do PT desde que chegou ao governo federal têm dito objetivos muito diferentes dos pregados em seu discurso, mas aqui a realidade tem pouca importância, o que vale é o discurso. A ideologia reproduzida e impregnada pelo discurso assume o status de verdade através da legitimidade da história de seu porta-voz, neste caso o nordestino pobre Luiz Inácio da Silva que chega a presidência da república para ajudar os seus iguais. A realidade dos fatos é colocada em segundo, terceiro plano, e nos casos de desinformação, e ideologização (que são muitos), nem isto.
 
É este o discurso que a oposição deve desconstruir, e isto não se faz em quatro ou cinco meses antes das eleições, e nem apontando as incompetências do governo (embora isto seja importante, já vimos que tem outro entendimento para a massa carente), se faz através da construção de um discurso repetido no tempo que volte a legitimar a oposição no poder. A oposição necessita urgentemente encontrar uma forma de dizer para a massa eleitoral do PT que ela é hoje, no Brasil, a única força capaz de melhorar a qualidade de vida de todos, e, sobretudo, dos mais pobres. Este discurso deve ser simples e direto, deve ser dito em linguagens distintas para atingir as diferentes camadas sociais, e repetido intensamente em todas as oportunidades de forma harmônica por todos os oposicionistas. Apenas com um discurso forte, eficiente e conciso iremos alterar o rumo que o PT quer impor a este país. O teor do discurso não vou arriscar, será pensado e analisado por especialistas da área a partir da percepção apurada dos sentimentos políticos que permeiam a mente e o coração do povo brasileiro atualmente.  
 
Para finalizar, quero dizer que reconheço a atuação da oposição decidida, competente e idônea tomada nos últimos meses, e que este artigo tem a finalidade apenas de agregar algo em uma luta já em andamento.

Mara Kramer é colunista convidada do Canal R&R Foco no Fato

7 comentários:

  1. Adorei seu artigo. Temos que, de fato, nos unir e lutar.

    ResponderExcluir
  2. É isso aí, é hora da oposição acompanhar o povo e mudar esse discurso fora de mora e do tempo!
    As pessoas querem mais e já estão descobrindo o que há por trás dos discursinhos dos petistas

    ResponderExcluir
  3. O discurso da oposição precisa ser construído para atingir a população em geral.

    ResponderExcluir
  4. Muito bom o artigo Mara, deve ser lido, relido e divulgado.

    ResponderExcluir

Obrigado por sua participação, em segundos seu comentário será publicado