terça-feira, setembro 17, 2013

O poder da burrice

Por Nelson Motta
Publicado no Globo desta sexta-feira

Todos os governantes, políticos, empresários, juízes, policiais e burocratas corruptos estão aliviados e serão eternamente gratos aos black blocs e vândalos em geral, que lhes prestaram o grande serviço de expulsar das ruas as manifestações populares que exigem mudanças urgentes e têm neles os seus principais alvos. Por ignorância e estupidez, fazem de graça o trabalho sujo em favor do que há de pior no Brasil. E ainda se acham revolucionários… rsrs

Em São Paulo, um idiota mascarado dizia na televisão que o seu objetivo era dar prejuízos a empresas multinacionais do bairro. Se fosse o repórter, eu lhe perguntaria se ele nunca imaginou que a única consequência de uma vitrine de banco quebrada é o seguro pagar uma nova. E, se o seguro ficar mais caro, os bancos repassam o aumento para todos os seus clientes. Mas a anta encapuzada acha que está combatendo o capitalismo… rsrs

Outro bobalhão, no Rio, encurralado por um policial, exibia o cartaz “não há revolução sem violência”, mas não quer que o Estado democrático se defenda da revolução dele com todos os meios, inclusive a violência. As cenas das turbas desembestadas escoiceando vitrines, pulando em cima de carros, derrubando e incendiando latas de lixo, não evocam a queda da Bastilha ou as revoltas de maio de 68, mas as imagens grotescas e os grunhidos do “Planeta dos macacos”.
A violência é humana e pode ser legítima, criminosa, doentia, perversa, criadora, gratuita, justa ou inevitável, pode até ser o motor da história, e a sociedade democrática tem que conviver com ela e encontrar um equilíbrio entre os direitos individuais e coletivos. Mas nunca foi tão burra como agora no Brasil.
Atuando como tropa de choque dos políticos bandidos, esses anarquistas de araque não sabem que são apenas fascistas, e usam as liberdades e garantias da democracia para ameaçá-la, impedindo que a população ocupe as ruas duramente reconquistadas da ditadura e livrando os verdadeiros inimigos do povo da pressão popular. Nunca tão poucos, e tão burros, deram tanto prejuízo a tantos, não a bancos e seguradoras, mas à democracia no Brasil.

Nelson Motta é jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor musical e letrista.

sexta-feira, agosto 30, 2013

Eduardo Saboia, o menino que seguiu os passos do pai

Por Maiá Menezes e Maria Lima 

Um policial em fuga bate à porta da embaixada brasileira na Guatemala, pedindo abrigo. Dizia-se perseguido pelo governo, acusado de ser “comunista”. O diplomata encarregado de Negócios decide abrigá-lo. Durante uma semana, mantém o refugiado em casa (o embaixador havia deixado o país, ameaçado de sequestro), sob o olhar da mulher e dos dois filhos. Entre eles, Eduardo Saboia. O ano era 1975. O atual ministro, ex-encarregado de Negócios na Bolívia, afastado das funções ao se responsabilizar pela ação de fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina (asilado há 15 meses na embaixada brasileira em La Paz) tinha então sete anos.
— Não tenho certeza se o Eduardo se lembra disso. O policial apareceu na chancelaria e entregou um revólver, dizendo-se ameaçado de morte. Eu fiquei sem saber o que fazer. Peguei ele, botei no carro e levei para casa. Esse policial ficou lá. Imagina o perigo. E o Itamaraty não me dava instruções. Quando deu, o homem já tinha fugido. Naquele tempo era ditadura aqui e lá. Era improvável que fosse concedido asilo. Mas assim mesmo eu não quis deixar de tentar salvá-lo — lembra Gilberto Vergne Saboia, pai de Eduardo, admirado com a coincidência dos casos, com desfechos e repercussões distintas.

Não havia pista de que Eduardo, carioca, seguiria os passos do pai. Ao acompanhar a família, entre outros postos, para Washington e Genebra (onde o jovem estudante se formou no College Caparéde), aprendeu francês e espanhol. O inglês veio das aulas na Escola Americana, que frequentou nos tempos em que Gilberto servia em Brasília. Na passagem pela Suíça, a veia artística pulsou: fez teatro, se tornou fã do que havia de mais vanguardista, o teatro do absurdo, e deixou na família a impressão de que se tornaria um intelectual, apaixonado que sempre foi por Literatura.

Na volta ao Brasil, no entanto, aos 18 anos, procurou pouso para começar a trilhar o caminho da diplomacia. O destino seguinte dos Saboia seria Washington. Mas a partir daí, Eduardo decidiu morar sozinho (com ajuda financeira da família), em Brasília, para estudar Direito.
No concurso que fez para o Instituto Rio Branco, ainda no terceiro período da UnB, passou em primeiro lugar. Uma de suas colegas, agora professora da Universidade, enviou mensagem a Gilberto ontem dizendo que o caso do filho seria, hoje, tema de uma aula sobre asilo político em sua turma de Direito Internacional.

Católico fervoroso, entre as reações de fãs nas redes sociais está o pedido por correntes de orações para o diplomata , Eduardo desenvolveu o fervor da fé já adulto. O pai suspeita que houve alguma influência da mãe. Mas diz que a profundidade do sentimento religioso surgiu já depois de casado. Na entrevista publicada nesta quinta-feira, no “Globo”, o diplomata diz que precisa de “muitas orações”. E, ao explicar a operação de fuga de Roger Molina, aifrmou ter “ouvido a voz de Deus”.
A religiosidade teria sido, então, decisiva na resolução de assumir os riscos e planejar a fuga do senador, com quem conviveu por um ano, em situação cada vez mais dramática?

— Pode ter tido influência sim, porque ele tem essa questão espiritual bem forte. Mas ele não agiu assim de forma quixotesca. Antes, advertiu muito o chefe dele (Patriota), que foi também punido. O que espero é que o bom senso prevaleça.

De domingo para cá, Eduardo só se arrependeu de uma coisa: ter comparado a situação vivida pelo senador, trancado em um quarto, por 15 meses, com o DOI-Codi, o que provocou forte reação da presidente Dilma Rousseff. Não achou ter sido feliz na referência que fez.
A trajetória de Saboia, o filho, inclui passagens por postos no Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial. A amizade com a família do atual ministro da Defesa, Celso Amorim, levou Eduardo a trabalhar por cinco anos como assessor do ex-chanceler do governo Lula. Ontem, Dilma disse que o ministro prestará esclarecimentos sobre a fuga de Roger Pinto Molina, que teve a escolta de dois fuzileiros navais.

Enquanto convivia com a situação insustentável do senador boliviano nas dependências da embaixada, nos últimos oito meses Saboia se dividiu entre La Paz e Oruno, onde 12 brasileiros, torcedores do Corinthians, foram presos pelo envolvimento na morte do adolescente Kevin Espada durante um jogo pela Taça Libertadores.
Na luta para provar a inocência dos prisioneiros, o embaixador interino viajou oito vezes a Oruro. Como negociador junto às autoridades bolivianas, queria ver de perto e tentar ajudar tanto os conterrâneos em situação de muita precariedade na prisão, como levar solidariedade à família de Kevin Espada. Numa das visitas, chegou a comprar com seu dinheiro itens básicos para amenizar o dia a dia dos brasileiros na prisão.
— O ministro Saboia comprou e levou para a gente colchões e cobertores. E sempre dizia uma palavra de conforto para nos acalmar. Dizia que faltava pouco para a gente sair. Ele foi fundamental para a gente conseguir sair — relembrou ontem o corintiano Cléber Souza Cruz.

Eduardo Saboia falava com a família no Brasil quase diariamente sobre o drama que vivia com o asilo do senador boliviano. O pai chegou de Genebra no dia 18, com a ideia de visitar o filho em La Paz. Nos dois últimos natais, Gilberto e Maria Helena se juntaram a Eduardo e sua família em Santa Cruz de la Sierra. O ministro é casado com uma oficial da chancelaria que atua em Santa Cruz, e tem três filhos, de 15, 17 e 20 anos. O mais velho, André. mora e estuda em Fortaleza, no Ceará, e é um dos entusiastas divulgadores das duas fanpages pró-Eduardo, abertas ontem e anteontem em favor do diplomata. Até o fim da tarde desta quinta, já havia 3.500 fãs do ministro. “Vamos lá, pessoal. Vamos mostrar ao Brasil e ao pessoal das redes sociais como meu pai foi corajoso, sábio e acima de tudo um herói”, diz ele, via Facebook. Os três seguem em Santa Cruz, porque “sair de lá só iria piorar a situação da família”, diz Gilberto.
— Eu gostaria de ter ido antes. No dia 18 cheguei de Genebra. Estava preocupado com o Eduardo lá sozinho, o embaixador foi chamado para o Brasil. Fui supreendido com a chamada dele de Corumbá, muito emocionado, tenso, desabafando, conta Gilberto, que relata ter percebido um tom crescente de preocupação do filho, nos relatos sobre a situação do senador boliviano:
 — Não havia um esforço político para vencer essa dificuldade. E a situação foi se agravando. E havia também umas ambiguidades no ar. O governo boliviano dizia: o Brasil sabe o que deve fazer, diz o pai, que chegou hoje a Brasília para dar assistência maior ao filho.

O desfecho do caso preocupa a família de Eduardo:
— A Constituição, todos os nossos compromissos internacionais e o fato de termos dado asilo a esse senador não podem ser ignorados. Agora, dizemos à Bolívia: “Evo Morales, nós gostamos muito de você, e da Bolívia, vamos cooperar em várias áreas, mas a decisão é essa”, avalia Gilberto que diz, no entanto, temer pelo carreira do filho dentro da diplomacia.

A escolha do posto de trabalho na Bolívia foi feita pelo casal, já que facilitava a logística da família. E transformou a rotina de Eduardo. Decidiu praticar esportes radicais. Subia montanhas de até quatro mil metros. Explicava aos amigos e à família que a prática fazia o organismo se adaptar à desconfortável altitude boliviana.

Como chefe da missão parlamentar do Senado, em março, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-PR), teve o primeiro contato com Saboia. Disse ter voltado ao Brasil impressionado com a maneira com que o ministro conselheiro agia em defesa do Brasil e dos presos. Saboia também atuou junto a presos brasileiros na fronteira da Bolívia com o Acre, quando aproveitou para visitar e dar apoio a imigrantes haitianos que aportaram em várias cidades da fronteira. Em 2010, o diplomata foi condecorado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a medalha da Ordem do Rio Branco, no grau de Grande Oficial.
— O ministro Saboia parece frágil, tem uma fala mansa e serena, mas é um gigante. Não se curva a qualquer interesse que não seja a Justiça e Direitos Humanos. A fuga, movida pela solidariedade humana e pela indignação, foi sua última porta de saída, diz o senador Ferraço.

A fala mansa e a vida de leigo religioso, no entanto, não camuflam a agenda social do diplomata. Com os filhos e a mulher grande parte do tempo em Santa Cruz de La Sierra, tem o dia cheio de atividades.
— Ele tem uma casa muito simpática lá em La Paz. Compensava a solidão dele tomando aulas de violão, guitarra clássica, fazia ginástica, corrida, montanhismo, um certo exagero, ralha Gilberto.


 

quarta-feira, agosto 21, 2013

Réplica ao texto do Sr. Emir Sader

 Por Lobão
(Transcrito na íntegra do Blog Joy soy lobon)

Sr. Emir Sader, 
Tomo a liberdade de interpretar como direta as suas indiretas a minha pessoa pelo singelo fato de ter escolhido o meu rosto para emoldurar o seu artigo, e mesmo que o senhor não tenha tido a hombridade de mencionar o meu nome, sinto-me na obrigação de lhe enviar a minha réplica. Sendo assim, vamos começar por partes:
 
1) Se existe essa transição de esquerda para a direita, me parece muito claro que o inverso é absolutamente verificável. O próprio Paulo Maluf, o José Sarney, o Fernando Collor, o Severino Cavalcanti, o Renan Calheiros entre tantos outros fazem parte integrante e fundamental da base aliada do PT. Todos com calorosa acolhida e, por que não dizer, com ardorosa defesa por parte de nossos grandes pensadores da esquerda (consulte sua colega, Marilena Chauí e pergunte o que ela acha atualmente do Paulo Maluf. É comovente perceber o amor, o carinho e admiração que ela nutre por ele nos dias de hoje). Portanto, sua tese começa a se desmoronar logo no segundo parágrafo do seu artigo.
 
2) O processo de conversão ao que o senhor se refere é algo mais simples e direto. Basta ter o mínimo de bom senso e uma inteligência mediana para se constatar a canoa furada que é a esquerda e seu lamentável histórico. É um mimo da sua parte achar que a URSS é o único repositório de quaisquer críticas tecidas à esquerda. Não, meu nobre companheiro. Não há na história da humanidade um só caso de que possamos nos jactar de alguma pálida forma que seja, da esquerda tendo um papel bem sucedido como modelo político. Todos foram um retumbante fracasso. Na URSS, na China, no Vietnã, Camboja, em Cuba, agora, na Venezuela, na Europa Oriental, na Albânia, na Coréia do Norte, Angola e por aí vai… Todos regidos por tiranetes caricatos. E não temos apenas a disseminação da miséria nesses povos, temos verdadeiros massacres, os maiores genocídios da história se concentram justamente nas administrações comunistas. Isso é fato irrefutável, portanto, o Stálin ser comparado a Hitler acaba sendo, por incrível que pareça, um eufemismo. Não me parece muito consistente o senhor querer fazer crer a qualquer criatura com mais de dois neurônios que Cuba é uma democracia plena, onde se respeita os direitos fundamentais do cidadão. Isso é um fato também. Não há o que discutir, lhe restando apenas o direito um tanto suspeito de ser um tiete de um regime deplorável. No entanto, o Brasil trava relações diplomáticas intensas com os irmãos Castro, auxiliando  sua administração com polpudas quantias do NOSSO dinheiro para aquela bela e tão maltratada ilha. E isso na maior cara de pau!
 
3) No quinto parágrafo do seu artigo o senhor faz uma alusão de casos de pessoas que são “recompensadas pela direita”. Mas que direita? Praticamente TODOS os órgãos estão comprados pelo governo! A maioria esmagadora dos intelectuais e artistas desse país está se lambuzando toda com gordas verbas federais e deformando sua funções primordiais para se transformarem em militantes cínicos (eu mesmo fui laureado com uma polpuda verba pela lei Rouanet, verba essa que recusei peremptoriamente).
E daí a inversão dos fatos: Vocês são os chapas-brancas! Vocês são os militantes e patrulheiros ideológicos de plantão! Vocês se locupletam de verbas públicas! Vocês são a força de engenharia social de um governo corrupto e incompetente e isso é muito feio, pra não entrar muito fundo na questão. O rebelde aqui sou eu,  companheiro. O espaço que recebo dessa tal mídia de direita que se refere é cada vez mais exíguo. Só consegui fazer um programa de televisão em TV aberta e todos aqueles que costumava frequentar por tantos anos me fecharam suas portas até o presente momento, embora, malgrado todas as tentativas (inclusive a sua) de detratar e inviabilizar o meu livro, ele continua  entre os mais vendidos por mais de 20 semanas. Sorry…
Quando sai alguma matéria sobre o Manifesto do Nada na Terra do Nunca é sempre no intuito de denegrir de forma capciosa o seu conteúdo e, não raro, também a minha pessoa e minha conduta da mesma forma  que o senhor comete em seu atual artigo.
 
Estou cansado de ler resenhas e crônicas me esculhambando, afirmando coisas absurdas como ser eu a favor da ditadura, da tortura, do regime militar. Eu jamais tomei esse tipo de posição!
Eu simplesmente não acredito em quem pegou em armas nos anos 60 pra “defender a democracia” porque isso não aconteceu! Eles (o senhor estava nessa também, não?)lutavam por uma outra ditadura! E esse é um cacoete mórbido que virou tabu investigar e isso é péssimo para todos nós.
Não acredito em pessoas como o senhor, que não passa de um filósofo de meia tigela, jogando pra sua galera, achando que vai se criar cagando goma pra cima de mim. Não vai!
 
Não admito ninguém ficar questionando a validade da minha qualidade artística, principalmente em se tratando de alguém que nada mais fez do que mostrar ser um analfabeto musical de amplo espectro. De outra forma não se arvoraria em tecer tão estúpido comentário em detrimento de uma porca e covarde estratégia pretendendo me despotencializar por uma suposta e inexistente decadência musical. Isto é, antes de mais nada, patético para a sua já tão combalida reputação.
 
Para concluir, quero deixar bem claro ao senhor e aos seu leitores uma coisa: Se informe mais a respeito de quem está falando, nutra-se de mais prudência, vai por mim… Tente enxergar o próprio rabo e pare de projetar a sua mediocridade, sua obtusidade e sua venalidade em outros, principalmente quando pode ter a infelicidade de se deparar com pessoas assim como… eu. Portanto, um dever de casa para o companheiro Emir Sader:
Escreva cem vezes no seu caderninho: Escriba de aluguel é o caralho.
Lobão.
 
Lobão é o nome artístico de João Luiz Woerdenbag Filho, cantor, compositor, multi-instrumentista, editor e apresentador de televisão 
 

terça-feira, agosto 20, 2013

A desordem como profissão

 Por Miro Teixeira
As gangues que se infiltram nas saudáveis manifestações populares, para desqualificá-las, quase sempre trazem os rostos encobertos e espalham o medo ao incendiar, saquear e depredar o patrimônio das pessoas, equipamentos públicos pagos pelos impostos de todos nós e empreendimentos privados, além de semear a dúvida em novos investidores que trazem empregos e buscam lucro e paz.

Não sei o que pretendem, mas dá para ver o que conseguiram. O apoio de oitenta por cento da população aos protestos já tem espaço para o debate entre o exercício do direito de expressão nas ruas e o direito de ir e vir de outras pessoas que descrevem transtornos provocados pelos acontecimentos.
As reações se confundem ao misturar os protestos contra a falta de compostura de políticos, com o vandalismo que surfou no asfalto ao lado do cinismo de posicionamentos demagógicos assumidos como resposta à “voz das ruas”.

Para separar as coisas, os protestos que reclamam em favor dos valores da República devem continuar, o direito de ir e vir deve ser assegurado e os vândalos devem ser reprimidos, presos e processados.
No ataque a pessoas indefesas, não temos vândalos. Temos simplesmente bandidos, a serviço de algo que não está desvendado e que precisa sê-lo. Parecem constituir uma espécie de milícia política, para neutralizar a simpatia popular pelas manifestações do Brasil 2013.

O vulto dos protestos tornou-se incômodo para autoridades e a ação dos delinquentes veio a calhar, paralisando-os pelo medo que estabelece alianças do povo com o poder, em nome da ordem, coisa do tipo “ruim comigo, pior sem mim”. Mas isso passa.
Quando o sentimento pela democratização do Brasil ganhou a população, os radicais da ditadura planejaram um atentado que mataria centenas de pessoas no show de 1º de maio de 1981, no Riocentro, Rio de Janeiro. Aos comunistas seria atribuída a sabotagem, fracassada pela explosão de uma bomba no colo dos agentes encarregados de executá-la.

Dois anos depois, milhões de pessoas foram às ruas, na campanha pela eleição direta dos presidentes da República e militantes partidários, munidos de rádios, procuravam identificar provocadores infiltrados e isolá-los, com a colaboração maciça dos verdadeiros manifestantes.
A ditadura caiu.
Com as tecnologias atuais, aos manifestantes torna-se mais fácil isolar os delinquentes, sem prejuízo do livre debate sobre o direito de ir e vir dos não manifestantes. Riocentro nunca mais.


Miro Teixeira é um jornalista, advogado e político.
Exerce o nono mandato de deputado federal (PDT RJ).
Foi Ministro das Comunicações do governo Lula

segunda-feira, agosto 19, 2013

Até tu Noblat?


Por Andréa Richa
Nessa segunda-feira , me admirei ao ler a coluna do caríssimo Ricardo Noblat. Em meio à chicana descarada do ministro Lewandowski e à falta de auto impedimento do ex- advogado do PT e atual ministro, Dias Tofolli, em ser o relator das contas do próprio partido a ser julgado, o que realmente faz o colunista Ricardo Noblat se indignar é a forma deselegante do atual presidente do STF, Joaquim Barbosa, ao pedir mais agilidade de seus pares.

A narrativa demonstra tanta indignação com as atitudes grosseiras de JB, que fica claramente exposto, o quanto vem avançando no Brasil , o avesso à disciplina e à ordem que se seguiu após a contra revolução de 64, que deu origem ao governo militar. Além de introduzir uma falta de limites no entendimento coletivo de perceber até aonde vai o nosso direito e termina o alheio, o ranço da aversão a qualquer atitude de firmeza ou autoridade (não confundir com “autoritarismo”, por favor) também contamina os mais esclarecidos dos nossos pseudos intelectuais ou formadores de opinião .

Essa distorção de valores, nos afasta ainda mais do foco do que realmente importa , prestando um desserviço à sociedade que, cada vez mais doente , se vê também mais longe de um remédio para a cura desse grande mal que está arrebatando várias gerações com a força de vândalos virais, a depredar os pilares das instituições sociais, morais e éticas, conquistadas a trancos e barrancos na história da humanidade ocidental cristã,( isso mesmo, por mais que se rasguem de ódio os esquerdopatas, não dá para dissociar moral e ética de princípios cristãos na formação da sociedade ocidental) .

Para embasar sua indignação, Noblat não se faz de rogado ao citar que o ministro JB foi escolhido por Lula para o cargo, no rastro das cotas raciais tão aduladas nas esferas públicas e deixa escapar que enxerga uma divisão entre negros que se sentem vítimas da sociedade , portanto, inferiores e aqueles que se arvoram contra a descriminação se escorando na soberba, lugar em que encaixa o negro JB. Seria esse o motivo, no seu entender, o fato do ministro ser intempestivo e impaciente com quem abusa da burocracia criada pelos meandros do “juridiquês”?

A meu ver, Joaquim Barbosa tem conhecimento exímio sobre “ embromation” e “chicanation”, qualidade deveras maior que os defeitos de elegância alegados pelo indignado colunista. E, a despeito de proferir votos decisivos para mudanças na constituição as quais eu não concorde, como as cotas raciais, ou como a decisão de acolher em berço esplêndido o terrorista italiano Cesare Battistii, ainda assim, prefiro a curta e grossa voz negra e soberba da autoridade quando essa se faz proeminentemente necessária, à afabilidade branca e debochada da hipocrisia politicamente correta, que corrói os alicerces culturais nas raízes da nossa sociedade demente e tão carente de ícones que nos faça acreditar que nem tudo está perdido.



 
Andréa Richa é jornalista e atriz

quarta-feira, julho 24, 2013

E se Lula, Henrique Alves e Renan Calheiros topassem confessar ao papa seus pecados mais sórdidos?

Por CELSO ARNALDO ARAÚJO
(Direto ao ponto do BLOG de Augusto Nunes)

O Papa Francisco ouvirá a confissão de três brasileiros no dia 26, sexta-feira, numa feira vocacional a ser realizada na Quinta da Boa Vista.
Ainda não se conhecem os nomes dos penitentes que terão o privilégio desse sacramento diante de Sua Santidade. Mas imagine o amigo se, por hipótese remotíssima, os escolhidos fossem, por exemplo, Lula, Henrique Alves e Renan Calheiros. Pode escolher outra trinca do mesmo quilate.
Milagres têm como finalidade conduzir os seres humanos a Deus de modo extraordinário. Nesse caso, imagine também um modo extraordinário de milagre – esses três seres humanos ordinários decidem falar apenas a verdade, nada mais do que a verdade, no confessionário papal, durante três minutos cada um. E confessando unicamente seus pecados mais sórdidos durante os anos na política, deixando de lado os veniais, já que os três são predominantemente venais.
Depois de ouvir os três pecadores seriais, o Papa Francisco, ainda em estado de choque, talvez perdesse sua fé inabalável nos homens – e se juntasse, na renúncia, a Bento 16. Mais pragmático, talvez se convencesse de que, no Brasil, os sete pecados capitais são, na verdade, os sete pecados da capital. E de que só Deus não sendo brasileiro seria possível que esse trio ascendesse aos píncaros do poder dos homens num país essencialmente católico. Deus então estaria livre para ser argentino — não fossem os Kirchners.
Mas basta de especulações. Inteiramente absurdas ambas as hipóteses: que Lula, Alves e Renan sejam penitentes; e que um dia falem a verdade, mesmo diante de um Papa. Como poderia nos ensinar o próprio Francisco — numa lição mais antológica do que aquela que deu a Dilma nesta segunda-feira, contrapondo seu discurso lindamente franciscano à autolouvação tacanha do cristianismo do governo lulopetista –, para se fazer uma boa confissão são necessárias cinco condições:
1) Um bom e honesto exame de consciência diante de Deus
2) Arrependimento sincero por ter ofendido a Deus e ao próximo
3) Firme propósito diante de Deus de não pecar mais, mudar de vida, se converter
4) Confissão objetiva e clara a um sacerdote
5) Cumprir a penitência que o padre nos indicar.
Cada uma das cinco condições suficiente para fazer esses três, e a imensa maioria de um governo que finge penitência ao Papa tentando pegar carona em sua fenomenal e justa popularidade, passar longe de um confessionário.
A eles restará a Justiça dos homens

Celso Arnaldo Araújo é jornalista e o maior especialista em *DILMÊS
* (Dialeto oficial da presidência da republica, adotado a partir de 2010)

terça-feira, julho 23, 2013

Cai a máscara

Por Newton Carlos de Figueiredo

Depois dos vândalos do Black Bloc, agora está caindo a máscara do tal Coletivo Mídia Ninja, que alega estar fazendo “jornalismo de vanguarda”, ao incentivar a baderna e a violência nas ruas, prejudicando e desvirtuando totalmente um dos movimentos político-sociais mais importantes da História do Brasil.
O Coletivo Mídia Ninja se apresenta como se fosse uma espécie de “jornalismo de vanguarda”, uma iniciativa aparentemente interessante e viável para quebrar o monopólio das chamadas nove famílias que comandam a “grande mídia” no Brasil. Mas na verdade é apenas mais um instrumento político de baixo nível.
O PT, chegando ao poder, traçou uma estratégia para democratizar a mídia. E se passaram 12 anos e nada. O que fez? Fortaleceu a Rede Record, está criando mais duas redes evangélicas (R.R. Soares e Waldomiro Santiago) e inundou de dinheiro uma rede de blogs amigos, que inventaram o PIG (Partido da Imprensa Golpista) e o transformaram em Partido da Imprensa Governista, defendendo tudo que o governo faz e demonizando a oposição.
São muitos blogs e sites hoje financiados pelo governo, através do Banco do Brasil, Petrobras, Caixa Econômica etc., e a fila está aumentando, porque muito jornalista também quer entrar nessa boca rica. E o tal Mídia Ninja, quem diria, é financiado pelo PT, via ONG Fora do Eixo.
TUDO SE SABE…
Acontece que a liberdade/liberalidade da internet abriga também outros tipos de sites e blogs, que não são financiados pelo governo e atuam com impressionante liberdade. Agora, ao pesquisar sobre o Coletivo Mídia Ninja, me surpreendo ao encontrar uma “Tribuna da Imprensa”, alternativa, que se diz livre. E foi nesse site que encontrei a verdade sobre os “jornalistas” que agem junto com os vândalos e baderneiros.
O PT precisava de seus próprios mascarados. Não uma massa anônima, incontrolável e com um ideal. E sim bem identificáveis, confiáveis. Aliados e afinados. Talvez também com máscaras mas saídos das entranhas do financiamento público cultural: os “NINJAS”, diz o extenso artigo, acrescentando que o Mídia Ninja é um braço da ONG Fora do Eixo, protegida por José Dirceu.
“Cria do Ministério da Cultura, o Fora do Eixo arrecadou milhões em incentivos fiscais ao longo dos anos. Uma rede política abastecida por recursos públicos, mas empenhada em algo próximo a um “marxismo cultural” do que em prestação de contas. Seria injusto eu não dizer ao menos uma ou duas boas iniciativas criadas por eles. Mas digamos que eu seja injusto. Em seus mais de 10 anos de existência nenhum artista ou grupo musical conseguiu qualquer tipo de projeção ou relevância através dos serviços do Fora do Eixo. Conseguiram sim, que associações de produtores, selos e festivais fossem fechados, dessem prejuízo ou chegassem a bancarrota.”
“Quando o PT decidiu que deveria fazer parte das manifestações, não foi uma medida desesperada. Enxergaram um interesse político e eleitoral. Uma oportunidade. Paulo Henrique Amorim enquanto mais uma vez chamava o site Anonymous de “tucanonymous”, colocou um link ao vivo da Mídia Ninja em seu Conversa Afiada. A distinção estava clara, a dicotomia mais uma vez estabelecida”.
“Vieram as manifestações, o cenário mudou. A Mídia Ninja, gerida pelo Fora do Eixo com simplórios porém eficazes recursos, mostra semanalmente a falta de comando da PM nos já esvaziados protestos contra o governador, contra Deus e contra tudo. E veio a glória: detenção totalmente insólita, por alguns minutos, de seus jornalistas.”
“Com Cabral chegando aos incríveis 20% de aprovação e arrastando junto Pezão para o buraco, Lindbergh e o PT entraram no jogo novamente para a cadeira de governador.”
O pobre Dudu Paes, cujo vice é do PT, e que ainda tem pretenções eleitorais, não foi esquecido pelos seus aliados. O PT logo arranjou com a Mídia Ninja uma exclusiva com o prefeito, garantindo de que tudo saísse bem. Entrevista com muita água e açúcar, Paes se distanciou de Cabral, criticou a polícia, elogiou os manifestantes. Se mostrou um político jovem, antenado com o digital. Paes é Ninja. E o cara-pintada Lindbergh também”.
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Como dizia Ibrahim Sued, em sociedade tudo se sabe. Ninguém desconhece que a política é um jogo sujo, mas não se pode admitir grupos políticos apoiando lançamento de coquetéis molotov sobre a polícia, que pouco tem a ver com os governantes, pois exerce uma função de Estado, quem elege os governantes somos nós. A culpa é nossa,  e não da Polícia. Os soldados da PM são brasileiros como nós, não merecem ser queimados vivos, em nome da baderna que favorecerá este ou aquele partido.

Newton Carlos de Figueiredo, jornalista brasileiro de imprensa e televisão, considerado um veterano na sua especialidade de comentarista internacional.

sábado, julho 20, 2013

Mal-entendido fatal


Do Blog de Merval Pereira

O presidente da seção do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Felipe Santa Cruz nega que tenha feito um pacto com o comandante da Polícia Militar para que não fosse usado gás lacrimogêneo ou bombas de dispersão nas manifestações, mas admitiu que fez “algumas ponderações”.
O comandante Erir Ribeiro da Costa Filho atribuiu a esse pretenso acordo com a OAB e movimentos de Direitos Humanos, como a Anistia Internacional, a perda de controle da situação na noite de quarta-feira no Rio, quando várias lojas foram saqueadas, equipamentos urbanos depredados e barricadas de fogo colocadas ao longo da Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon, durante várias horas por ação de baderneiros, sem que a polícia interviesse.
Segundo Santa Cruz, as ponderações que fez, por conta especialmente do episódio da clínica médica em Laranjeiras invadida no domingo, com doentes terminais passando mal, foi sobre o uso cuidadoso principalmente do gás lacrimogêneo e, “claro, que preferíamos a utilização das armas não letais”. E também sobre “o momento da utilização”.
Santa Cruz diz que ponderou às autoridades que os “black blocs” (bandos de anarquistas que têm a depredação de prédios públicos e bancos como ação política) “saem da manifestação, batem na polícia, recuam e a polícia, ao jogar gás lacrimogêneo, apenas espalha o movimento”.
Para ele, a OAB “sempre teve uma posição muito firme de que qualquer manifestação que desbordasse em violência, fora da legalidade, deveria ser reprimida pela PM”. Santa Cruz disse que teve o cuidado de ser muito claro na relação com a PM “para evitar que a OAB fique naquela posição clássica, como se ela estivesse dando cobertura a qualquer tipo de ilegalidade. Paguei um preço alto em críticas pelo o que aconteceu no Leblon”.
Na terça-feira, diz Santa Cruz, o comandante da Polícia Militar pediu que os advogados ficassem entre os manifestantes e a polícia, “e eu não concordei. Acho um absurdo colocar advogados como escudo”. Houve a determinação, então, para que os advogados acompanhassem de trás as manifestações, relata Santa Cruz.
O presidente da OAB do Rio fez críticas à ação da Polícia Militar: “Depois dessas badernas nós estamos estranhando que não chegam nas delegacias no final da noite nenhum desses Black Blocs, ou chegam pouquíssimos”.
Segundo ele o que tem acontecido é que a PM, “após se omitir, deixar que esses grupos atuem, passa no final da noite recolhendo pessoas, e já recolheu cadeirante, recolheu mendigos. Quando chegam na delegacia, a Polícia Civil, que tem desempenhado um bom papel, não tem condições de fazer a ocorrência dentro da lei”.
Há informações de que a OAB está mandando advogados para as delegacias para soltar os presos, mas Felipe Santa Cruz diz que o que existe é um movimento que nasceu também espontaneamente no Facebook chamado Habeas Corpus, formado por advogados.
Ele explica que parte do trabalho da Ordem dos Advogados do Brasil tem sido acompanhar tecnicamente nas delegacias os casos de prisão, “e há uma determinação nossa de que toda e qualquer ação ilegal deve ser combatida”.
Santa Cruz diz que a OAB faz o acompanhamento das manifestações desde o seu início, e a preocupação era “garantir a liberdade de manifestação, nunca a defesa desses baderneiros”. Ele ressalta que fazem esse acompanhamento a convite da própria PM, para verificar se as leis estão sendo cumpridas, os direitos humanos respeitados nos procedimentos policiais nas delegacias.
“Mas basicamente atendendo à população que vem sendo presa sem razão nenhuma. Nós proibimos os advogados de trabalharem em nome da Ordem na defesa dos que são acusados formalmente de baderna. Claro que todos têm direito a advogados, mas devem procurar por conta própria”.

De duas, uma: ou o comandante da PM Erir da Costa Filho levou a sério demais as "ponderações" do presidente da OAB do Rio, ou Felipe Santa Cruz transformou em meras "ponderações" o pacto com a polícia militar depois do resultado desastroso de sua mediação.

Merval Pereira é colunista do GLOBO e comentarista da CBN e da Globo News

sexta-feira, julho 19, 2013

Fazendeiros do ar

quinta-feira, julho 18, 2013

Os inocentes do Leblon


 
Esses são os "Inocentes do Leblon".
Estavam na manifestação SIM. Participaram dessa palhaçada SIM. Foram admitidos pelas pessoas que lá estavam SIM. E saíram da manifestação já de mascaras SIM.
E quem estava lá e admitiu a presença deles é conivente com a quebradeira nos bairros do Leblon e de Ipanema.
Não adianta tentar negar, as imagens mostram com clareza a presença do entrevistado no inicio do filme durante a manifestação  na porta do prédio de Sérgio Cabral com mascara, e que ele estava deliberadamente preparando alguma coisa não muito aprovável...
Não são favelados os que estão barbarizando, são "soldados" arregimentados para participar das manifestações e tocarem TERROR!

sexta-feira, julho 12, 2013

O GIGANTE E O LEXOTAN


(Por Nélio Roças).

Beira o patético o acontecido hoje no Brasil. Era quase inimaginável que os trapalhões comandados por Dilma Rousseff conseguissem se superar e promover algo mais circense que o já imputado a seus currículos. Promoveram um verdadeiro festival de horrores, usaram uma central sindical que já estrebucha e mal se suporta de pé, fruto do modelo chapa branca criado pelo Partido dos Trabalhadores, para como ultima (assim esperamos) tentativa, levantar a imagem já tão combalida e acéfala de um governo ineficiente e corrupto. Pagaram segundo informações veiculadas por jornais como O Globo por exemplo um cache de, acreditem, R$50,00 a alguns dos participantes, para que saíssem as ruas carregando suas fedorentas bandeiras e engrossassem uma resposta aos digamos desavisados, para ser educado, que a menos de um mês sem o menor embasamento, esclarecimento ou preparo politico, invadiram as ruas para reivindicar uma pauta absolutamente confusa e sem a mínima condição de ser ponto de partida para qualquer negociação séria e plausível de analise.
O Brasil pode continuar a ser o mesmo, na medida em que jamais deixou de ser esse pais terceiro-mundista, pode inclusive ver passar despercebida toda essa confusão e superar o possível trauma que será a quase certa reeleição de Dilma Rousseff, mas com certeza uma coisa não dará para negar ao mundo: Isso aqui é o pais da piada pronta, habitado por um povo engraçadíssimo e abestado, que ao primeiro aceno de uma cambada de imundos (insisto que foi Zé Dirceu que incitou a rebeldia do movimento passe livre), foi a rua e começou a bagunça que agora tornou-se um dos maiores trunfos e talvez a salvação de um governo que estava a beira de um colapso e caminhando para o fundo do poço.
Agora Dilma Rousseff respira aliviada, pois tem doze meses para remendar algumas coisas que nada mais serão que belas plataformas para as eleições de 2014.
Parabéns POVO GIGANTE, você já fez merdas demais, e agora pode dormir com a certeza que nunca deixaste de ser o que esperávamos de você: UM POVO DE BOSTA!
E veja se se dessa vez dobra a dose do LEXOTAN...


(Nélio Roças)
 

quinta-feira, julho 11, 2013

O gigante fala dormindo

Por  GUILHERME FIÚZA

O Brasil deu para dizer a si mesmo que mudou. Que nada mais será como antes das manifestações de rua, que agora vai. Que se os governantes e os políticos em geral não entenderem o recado das ruas, estão fritos. É um fanfarrão, esse Brasil.
Qual é mesmo o recado das ruas? Vamos falar a verdade: ninguém sabe. Nem as ruas sabem. Ou melhor: não há recado. O gigante continua adormecido em berço esplêndido — o que se ouviu foi um ronco barulhento, misturado com palavras desconexas. Esse gigante fala dormindo.
Há alguns anos, a imprensa vem contando aos gritos o que está acontecendo com o gigante, sem que ele mova um músculo. E o que está acontecendo é devastadoramente simples: em uma década, o ciclo virtuoso do país foi jogado fora pela indústria do populismo. A crise das tarifas de ônibus (estopim dos revoltosos) é só uma unha do monstro: o descontrole inflacionário causado pelo derrame de dinheiro público. País rico é país com 40 ministérios.
A economia estabilizada nos anos 90, e a posterior enxurrada de capital para os países emergentes, deram ao Brasil sua grande chance. E ela foi queimada por um governo que investiu tudo numa máquina eleitoral sem precedentes. Planejamento zero. Investimento quase zero. Infraestrutura abandonada em terra, mar e ar, com trem-bala, Belo Monte e outras assombrações bilionárias encobrindo a realidade: o PAC entregue à pirataria da Delta e quadrilheiros associados. A CPI do Cachoeira chegou a levantar esse véu, mas o gigante não acordou e a CPI foi assassinada (pelo PT e seus sócios).
Os governos Dilma e Lula bateram todos os recordes de arrecadação, com impostos escorchantes (entre os maiores do mundo) que empobrecem os brasileiros e enriquecem o império do oprimido. Nem um gemido das ruas sobre isso. Dilma anuncia um “pacto” sem nada dentro, e ainda diz que para bancar o recheio do pastel de vento terá que aumentar impostos. É o escárnio. E não aparece nenhum Robespierre da Candelária para mandar a presidente engolir o seu deboche.
Enquanto isso, a maquiagem das contas públicas vai bem, obrigado — com mais um truque contábil no incesto entre o BNDES e o Tesouro, para forjar superávit e legalizar a gastança. É pedra na vidraça do contribuinte, que nada ouve e nada vê. Deve estar na passeata, exigindo cidadania.
Pensando bem, foi o governo popular quem melhor entendeu o recado das ruas: os cães ladram e a caravana passa. Ou talvez: os revoltados passam e a quadrilha ladra.
Para checar se o gigante estava dormindo mesmo, o estado-maior petista chamou um dos seus para ir até o ouvido dele e chamá-lo de otário, bem alto. Assim foi feito. Como primeira reação oficial às passeatas, Dilma escalou Aloizio Mercadante para dizer ao povo que ele ia ganhar um plebiscito. E que com esse plebiscito, ele, o povo, ia fazer a “reforma política” (o Santo Graal dos demagogos). Claro que o governo sabia que isso era uma troça, uma piada estilo “Porta dos fundos”. Tanto que caprichou nos ingredientes.
Para começar, a escolha criteriosa do porta-voz. No governo da “presidenta”, cercada de ministras mulheres por todos os lados, a aparição do ministro da Educação — cuja pasta não tinha nada a ver com nada (nem reforma política, nem plebiscito, nem transportes, nem orçamento, nada) — já seria impactante. E não era qualquer ministro. Era o famoso Mercadante, figura tostada em casos como o dossiê dos aloprados e a “renúncia irrevogável” da liderança do PT no Senado, quando o partido decidiu acobertar o tráfico de influência de Sarney (Mercadante revogou sua própria renúncia em menos de 24 horas).
E o porta-voz foi logo anunciando um “plebiscito popular”, só faltando dizer que era uma decisão de “governo governamental”. Enfim, um quadro de “Zorra total”.
Com toda essa trágica palhaçada gritada em seu ouvido, o gigante permaneceu estático. Sono profundo. Nem um “basta”, nem um “#vem pra rua”, nem um “que m... é essa”. Depois daquele incrível ensaio de Primavera Árabe (ou seria Inverno Tropical?), com milhões nas ruas em todo o território nacional, o Brasil revolucionário mordeu a isca como um peixinho de aquário. E está até agora discutindo, compenetradamente, o plebiscito popular e irrevogável do Mercadante. Contando, ninguém acredita.
O país se zangou, foi para as ruas, tuitou, gritou, quebrou e voltou para casa sem nem arranhar quem lhe faz mal. O projeto de privatização política do Estado, que corrói a sociedade e seu poder de compra, está incólume. A prova disso? A popularidade de Dilma caiu, mas quem surgiu nas pesquisas para 2014 vencendo a eleição no primeiro turno, e escolhido “o mais preparado para cuidar da economia nacional”? Ele mesmo: Luiz Inácio, a nova esperança brasileira.

Ora, senhor gigante: durma bem! Mas, por favor, ronque baixo. E pare de bloquear as ruas com seus espasmos inconscientes.


Guilherme Fiuza é jornalista e escritor.

segunda-feira, maio 20, 2013

CENSURA BURRA

Na quarta-feira, 15, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu manter a proibição do engenheiro agrônomo Ricardo Fraga Oliveira, de 49 anos, de se manifestar nas redes sociais contra um empreendimento imobiliário na Vila Mariana, zona sul ...de São Paulo. Oliveira foi proibido de mencionar o assunto em suas páginas online e de circular no quarteirão da obra. Seu perfil no Facebook segue fora do ar. A determinação levanta, mais uma vez, a discussão sobre liberdade de expressão na internet no Brasil.
Em junho de 2011, Oliveira iniciou o movimento O Outro Lado do Muro para questionar o uso de uma área de 10 mil metros quadrados para a construção do Ibirapuera Boulevard. No muro do terreno, ele colocou uma escada para que as pessoas olhassem por cima e opinassem sobre o uso do espaço. "Nossa ideia não era parar obra nenhuma, era fazer uma reflexão sobre a ocupação do espaço urbano", diz Oliveira.
A construtora Mofarrej afirma que as manifestações afugentavam clientes e as publicações no Facebook eram ofensivas e caluniosas. "O direito de expressão tem um limite, pois há o direito da empresa de livre iniciativa", afirma Daniel Sanfins, advogado da empresa.
O caso retorna agora à primeira instância. "Essa decisão pode abrir um precedente perigoso para a liberdade de expressão, pois a limita de forma muito forte", diz Renato Silviano, advogado de Oliveira.
Decisões envolvendo a retirada de conteúdo online são recorrentes no País, mas proibir um cidadão de se manifestar na internet ainda é um campo novo. No mês passado, o advogado Cassius Haddad, de Limeira (SP), processado por ofender o promotor Luiz Bevilacqua e fazer críticas ao Ministério Público no Facebook, foi proibido de acessar redes sociais, sob pena de prisão preventiva. Após duas semanas, foi liberado a usar a internet, mas ainda não pode mencionar o Ministério Público nem o nome de Bevilacqua.

Lei
Não há legislação específica para tratar da liberdade de expressão na internet no País, o que faz com que os critérios de decisão pareçam, por vezes, nebulosos. O Marco Civil da Internet, projeto de lei que surgiu há três anos com o objetivo de regular temas como liberdade de expressão online e privacidade, está parado no Congresso.
No Brasil, a Justiça tem entendido que provedores como Google e Facebook precisam remover o conteúdo ao serem notificados. As decisões judiciais, de maneira geral, dizem que é responsabilidade das empresas avaliar as reclamações.
No ano passado, o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul ordenou a prisão do diretor de operações do Google no Brasil, Fabio Coelho, por não retirar do ar vídeos do YouTube que atacavam o candidato a prefeito de Campo Grande Alcides Bernal (PP). A área eleitoral é um dos pontos mais críticos. No segundo semestre de 2012, o Brasil fez ao Google 697 pedidos de remoção de conteúdo. Quase metade (316) se baseava no Código Eleitoral.
"Muitas vezes a Justiça censura opiniões pois entende que ofendem a reputação de alguém e, com isso, abafam críticas de relevância social. Mas opiniões e críticas são protegidas no Direito Internacional", diz a advogada Camila Rodrigues, da ONG Artigo 21, que defende a liberdade de expressão.
Bruno Magrani, pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-Rio, diz que o problema não é a falta de legislação. "O problema é a forma com que o Judiciário interpreta a liberdade de expressão no Brasil. Existe um entendimento de que ela é um valor menor." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Anna Carolina Papp / Agência Estado

domingo, maio 19, 2013

Um bauruzinho entre a vida e a morte

Por Lula Falcão
www.lulafalcao.com.br

Pois estou aqui parado, sem crédito para o celular, sem dinheiro para a passagem, sem um tostão para um bauruzinho de cinco reais. Almoço bauruzinho com Coca-Cola há muitos meses. Nem isso, hoje. O mais complicado é que não vivo entre miseráveis, mas no seio desta classe média tão cheia de exigências e padrões. Passo longe da mesa daquele bar, ali na frente, perto da farmácia, onde meus amigos estão sentados, tomando cerveja. Cansei de dizer “estou sem grana”; eles se cansaram de dizer “Ok, a gente paga”.
Tem pessoas que se acostumam a tais situações. Eu me revolto, mas só por dentro, não culpo a política do governo. Fico só naquela: por que esse desgraçado incompetente ganha uma fortuna e eu estou na merda? Não é inveja. Fiz faculdade, já tive um carro e viajei pelo mundo. Um dia deu tudo errado e dias errados se repetem até hoje. Tento. Mandei meu currículo para diversos lugares. Não há vagas. O emprego cresce no País e eu diminuo. Nem me lembro do último filme que vi no cinema. Também não culpo Deus. Nem acredito em Deus. Minha vizinha disse que é isso. Quem não acredita se fode. Aliás, na semana que vem não haverá mais vizinha – estou sendo despejado.
 
Por enquanto, só pinga algum quando aparece um trabalho eventual, free-lance, faço quase tudo, mas minha última especialidade é escrever teses de mestrado para filhos da puta que vão se dar bem na vida. Fico pensando: o cara vai ganhar o emprego que seria meu. O texto é meu, as ideias são minhas e até a encadernação é por minha conta. Tem ainda uma consultoria básica. Às vezes, o sujeito quer uma tese sobre a influência de X sobre Y e digo que é o contrário e ele aceita. Não pagam por isso.

Já havia passado por problemas financeiros, mas passar fome é demais. Nunca imaginei chegar a este ponto até cavoucar os bolsos, não encontrar nem moedas e engolir o seco como almoço. Perguntam se tenho família. Ora, tenho, muita gente, mas cada um está preocupado com seus próprios problemas, sempre maiores do que o meu. Pelo menos é assim quando ia pedir mais cem emprestados à minha tia, planejando arrodeá-la com elogios para depois dar o bote. Não funciona muito. Quando me vê, ela já começa a contar miséria e dar conselhos. “Por que você não faz um concurso?”, sugere titia. “Não quero ser funcionário público”, respondo. “Desse jeito, então, fica difícil”, arremata a velha. Sempre.
Na última segunda-feira, saí de casa decidido a resolver meus problemas. Pensei nas opções, mesmo em assaltar um banco, mas sou cheio de pruridos e a alternativa mais em conta seria me matar. Fiz os procedimentos, escolhi os objetos precisos e escrevi o tal bilhete. Muito grande, detalhista ao extremo, mas tinha suas qualidades. Pois morri e no mesmo minuto acordei, no mesmo canto, olhando para o mesmo bar defronte à farmácia e lamentando a falta de dinheiro. Não havia a sensação de ter virado fantasma. A sensação era de ineficácia da morte, nem ela resolveria meus problemas. De fato, ninguém notou que morri, foi rápido, apagão geral, e os comprimidos – tomei quatro cartelas, vencidas – me deixaram ainda mais melancólico e desgostoso com o mundo. O que fazer? Morrer de novo, brincando de eterno retorno, voltando sempre para a porcaria de sempre?
E agora?
Tornei-me um personagem inverossímil, sem muito espaço para manobras, uma vez que movimentos em falso produzem o total desando do texto, e seria prudente dar à minha morte a categoria de desmaio. Não sei ainda. Outro problema é começar com um drama da classe média e terminar nos jardins do Éden. Falta espaço para descrever as coisas do céu e do inferno, ou chupar histórias de Bulgakov, sobre o gato falante que fuma charuto e faz parte da comitiva do diabo.
No fundo, essa mania de metalinguagem é o meu horror. Nem posso morrer, nem comer e as outras saídas são absurdas. Criou-se aqui uma área de estagnação, um beco sem saída, um mato sem cachorro - apenas em nome de uma solução literária sem futuro. Fato e ficção se misturam. Talvez eu seja outro narrador – o primeiro eu matei - ou talvez eu enverede pela história do cara que morre e seus pensamentos ficam gravados num HD externo. Pode ser uma alegoria - "Morrer é mudar de corpo como os atores mudam de roupa" (Plotino)- ou uma história espírita, de reencarnação imediata, um plano de renascimento sem carência. Seja lá o que for, foda-se, não vou exigir muito. Meu estômago está roncando. Agora, só quero um bauruzinho.
 
Lula Falcão é jornalista e escritor, atuou em algumas das principais redações do País – O Globo, Veja e o Estado de S. Paulo. É co-autor de Frevo – 100 anos de Folia e autor de Todo dia me Atiro do Térreo e Iberê, segundo Paulo (ficção).

quinta-feira, maio 16, 2013

A MP DOS PORCOS


Por Agamenon Mendes Pedreira
(Do BLOG do Agamenon)

Alegria de palhaço é ver o Congresso pegar fogo ! Ninguém se entende na Câmara Indiscreta dos Deputados. Governistas fiéis corneiam o governo à céu aberto, na frente das crianças sem o menor pudor. A TV Câmara o dia inteiro exibe cenas de sacanagem explícita que deixam o canal erótico Sexy Hot parecido com o Cartoon Network. O deputado Garotinho aproveita a sua condição de “di menor” para cometer as maiores barbaridades no plenário já que está sobre a proteção do Estatuto do Menor e do Adolescente. Os deputados estão revoltados porque agora estão sendo obrigados a trabalhar o dia inteiro e até varar à noite pela madrugada adentro o que contraria os hábitos indolentes do político brasileiro. Era muito melhor no tempo do mensalão: já estava tudo pago!

E esse quiprocó todo só está acontecendo por conta da MP (Metida Provisória) dos Portos que pretende modernizar os atrasados portos brasileiros. Eu tenho o maior interesse neste assunto já que Isaura, a minha patroa, ganha a vida fácil no cais do porto. A minha cara metade (e bota cara nisso) foi obrigada a defender o “leitinho quentinho” das crianças depois que eu fui “afastado” de O Globo, por razões misteriosas que já se tornaram lenda suburbana.
A vida nas docas é muito difícil e eu sei bem como é isso. Na minha infância, minha mãe se produzia toda noite e ia para a beira do cais defender algum qualquer por fora (e por dentro também). Eu não sei bem o que a velha fazia, mas acho que ela devia ser estivadora porque estava sempre com um saco nas costas.

Agamenon Mendes Pedreira, assim como a Angelina Jolie, está pensando em extirpar uma parte de sua anatomia e dar pro cachorro

segunda-feira, maio 13, 2013

Vamos tocar caxirola, irmão

Por Fernando Gabeira (ESTADÃO 10/05/2013)
 
Na economia, a galinha pousou e ainda cacareja com estridência, sob o impulso do contato com o
solo. Na política, o edifício dominante começa a mostrar suas rachaduras. O PSB, por meio de Eduardo Campos, parte para a carreira solo; dentro do governo, tremem os alicerces da fraternidade.
Alguns petistas acham que Dilma Rousseff, com os olhos verdes desenhados para a nova temporada, protege Erenice Guerra, seu ex-braço direito, e o ministro Fernando Pimentel. Em contrapartida, Dilma, segundo eles, persegue Rosemary Noronha e mantém certa frieza ante os condenados pelo mensalão. É um delicado tipo de fissura. Os acusados amigos de Lula são tratados com rigor, os acusados amigos de Dilma seguem sua trajetória milionária. Erenice é um pouco, no governo Dilma, o que foi José Dirceu no governo Lula: ela articula inúmeros negócios na área de eletricidade, representa poderosos grupos estrangeiros.
A essência dessa intrincada luta interna não é estranha à História do Brasil: ou todos se locupletam ou restaure-se a moralidade. O ideal é de que todos se locupletem, não exista nenhuma distinção entre trambiqueiros da cota de Lula e da cota de Dilma. São todos irmãos, bro.
Como se não bastassem os ácidos humores internos, a aliança do governo embarcou numa aventura contraditória. O PT quer se vingar do Supremo Tribunal Federal (STF). O PMDB pede paz. Por que tanta briga, se podemos continuar comendo de mansinho?
O embate contra o STF era previsível. E não só pelas tintas bolivarianas que ainda colorem os sonhos da esquerda no poder. A tese de que o mensalão nunca existiu não deixa margem de manobra. É preciso desarticular o Poder que escreveu a narrativa do episódio. O edifício está condenado pela Defesa Civil. No entanto, a experiência das andanças pelas áreas de risco mostra que um edifício condenado nem sempre cai ou é abandonado pelos ocupantes.
Surge aí o papel da oposição. Será capaz de se unir, apresentar uma alternativa, enfrentar a dura luta cotidiana contra um esquema que estendeu seus braços como um polvo, abraçando tudo o que lhe oferece ainda alguma resistência?
Vamos tocar caxirola, irmão. Chegamos aos grandes eventos esportivos, uma aventura do novo Brasil mostrando ao mundo sua capacidade de organização, sua pujança. O edifício vizinho, o da cúpula esportiva, está literalmente ruindo. João Havelange deixou a presidência da honra da Fifa, em segredo. Ricardo Teixeira gasta seus dólares em Miami. Sobrou apenas José Maria Marin, enrolado com gravações em que estigmatiza Vladimir Herzog e prega em defesa da família brasileira.
Alguns patriotas que defendem a família costumam pintar os cabelos e beliscar a bunda das secretárias, em Brasília. Marin só pinta os cabelos e rouba medalhinhas em eventos esportivos. É inútil esperar que as tribos de cabelo acaju e negro como as asas da graúna entrem em conflito mortal, numa batalha que tinja a verde grama da Esplanada.
Vamos tocar caxirola! Soldados vestidos com capa de chuva protegerão nossa sinfonia na seca de Brasília, em estádio que nos custou os olhos da cara.
A aventura política parte do mito de que somos os melhores no futebol. Os alemães, entre outros, têm mostrado como o nosso esporte precisa de uma renovação de craques, técnicos e dirigentes. Quando o edifício da cúpula esportiva cair, e com ele o mito de que somos os maiorais, vamos jogar caxirola, irmão. O impacto se fará sentir no outro edifício condenado.
A caxirola é uma granada de plástico que explode no chão fazendo ploft. Toda uma tentativa de driblar a História, de transitar pelo atalho do consumo na economia, de trilhar os caminhos revoltantes do cinismo na política será reduzida à sua verdadeira dimensão.
O Rio de Janeiro tem três prédios conhecidos como “balança, mas não cai”. Estão ali para lembrar que as previsões só se podem cumprir se houver uma vontade ampla de achar outros rumos para o País. O edifício pode não cair no próximo teste. Nosso único consolo será ver a presidenta do Brasil tocando de novo sua caxirola, símbolo de uma visão de mundo, de povo, de festa: caxirola, cartolas, a base do governo, tudo com mordomos a R$ 18 mil e garçons a R$ 15 mil por mês. E concluir, resignadamente: venceram, mas da próxima não escapam.
A caxirola passa, o Brasil segue em frente. No momento, a política aparece como uma espetáculo distante e ridículo. Não por caso os programas humorísticos montaram tenda no Congresso. Mas o ano eleitoral necessariamente trará um debate sobre os rumos do País. Já devia ter começado, no momento surgem apenas alguns slogans.
Eleições podem ser uma armadilha. Cortinas de fumaça costumam dar mais votos do que argumentos sérios. Quase ninguém lê programa. Debates na TV, entrevistas ajudam a conhecer as perspectivas dos candidatos, mas ensinam um pouco também sobre o que as pessoas estão pensando sobre o País. Mas as eleições serão uma excelente oportunidade para tomarmos o pulso do Brasil, esperando constatar, como na canção, que o pulso ainda pulsa.
Vivemos grandes alianças ao longo do processo de democratização: a luta pelas diretas, o impeachment de Collor. Depois foi a vez dos dois grandes partidos experimentarem o poder. O governo Fernando Henrique Cardoso construiu as bases para a estabilidade econômica e a bonança internacional inspirou o PT a dinamizar o consumo.
Em 2008 a crise internacional instalou-se para lembrar que as coisas não seriam mais como antes. E nos colheu ainda com uma educação medíocre, uma infraestrutura tosca e uma gigantesca e dispendiosa máquina administrativa. Para agravar nossos custos, a imensa corrupção, vendida como um mal necessário, uma pequena taxa no banquete do consumo.
Isso já era realidade em 2010. Dilma Rousseff pegou o bonde andando e manteve o rumo, indiferente ao fim da linha. Ela troca com regularidade a cor dos olhos. Mas não consegue ver outro caminho.

* Fernando Gabeira é jornalista.
 

Uma copa cheia de lixões

Por Agostinho Vieira
A escalação da seleção que entrará em campo na abertura da Copa do Mundo, dia 12 de junho, ainda não é conhecida. É natural. O técnico Felipão tem dúvidas em várias posições e muita coisa pode acontecer até lá. Já do ponto de vista ambiental, é possível ter algumas certezas sobre o que veremos daqui a 400 dias. Uma delas é que continuaremos convivendo com os famigerados lixões que cercam o país.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em 2010, depois de vinte anos de discussões, estabelece que até o dia 2 de agosto de 2014, mais ou menos vinte dias após a grande final da Copa, todos os lixões a céu aberto, vazadouros e afins deverão ser desativados. Os prefeitos que não cumprirem a lei podem ser processados por improbidade administrativa e perderem os seus direitos políticos.
No entanto, pelo andar da carruagem, tudo indica que nem os lixões serão fechados, pelo menos grande parte deles, nem os prefeitos serão punidos. Vale ressaltar que a expressão “andar da carruagem” usada aqui não é só um lugar comum. Mas uma alusão à lentidão com que as leis são aplicadas no Brasil. Mesmo as boas. Na semana passada, a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) anunciou que já está negociando com o Congresso e com o governo federal uma prorrogação do prazo para a destinação correta do lixo. Na verdade, reivindicam prazos diferentes de acordo com a realidade de cada cidade.
O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), atual presidente da entidade, diz que, para grande parte dos municípios brasileiros, será impossível cumprir a lei. Fortunati usa um argumento bastante curioso, mas que simboliza bem o nosso jeito de fazer política. Segundo ele, 72% dos prefeitos vitoriosos nas eleições de 2012 não estavam no cargo quando a PNRS foi aprovada. Logo, eles não poderiam ser responsabilizados pela omissão dos seus antecessores.
Por este raciocínio torto, leis que afetem a vida das cidades só deveriam entrar em vigor no dia da posse dos prefeitos. O mesmo valeria para governadores e presidentes. Se não aconteceu no meu horário de trabalho não é culpa minha. Enquanto isso, 50% dos municípios continuam jogando o lixo em terrenos baldios, sem nenhum tipo de cuidado. Esse índice chega perto de 90% nas regiões Norte e Nordeste e supera os 70% no Centro-Oeste. No Sul e no Sudeste, o número de cidades varia entre 15% e 18% do total. São quase três mil lixões no Brasil. Não é preciso ser especialista para identificar a contaminação que isso provoca nos rios, no solo e no ar. Sem falar nas doenças. Um problema que deveria ser resolvido com urgência. Mas não é.
A lei estabelecia que até agosto do ano passado as prefeituras deveriam ter criado os Planos de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. Um conjunto de regras e normas sobre como recolher, tratar e destinar o seu lixo. Incluindo programas de reciclagem e talvez até aproveitamento energético. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, só 20% das cidades fizeram o seu dever de casa.
Sem esses planos, os prefeitos não conseguem obter financiamento público para projetos de gestão de resíduos. Mas isso não parece ter mobilizado ninguém. Agora, o governo fará uma nova chamada para os municípios que perderam o prazo. Promete ajudar, discutindo caso a caso. A maioria alega falta de dinheiro e de gente qualificada para fazer o serviço.
Faz sentido. Mas falta também uma boa dose de vontade política. É muito mais barato para um governante contratar um caminhão velho e jogar o lixo em qualquer lugar longe dos olhos dos eleitores do que investir em aterros sanitários e em reciclagem. Ações que dão muito trabalho e pouco voto. Apesar disso, é difícil encontrar alguém que seja contrário à PNRS. Pelo menos publicamente.
Trata-se de uma lei óbvia e necessária, mas que envolve muita gente. Ela atribui tarefas para o poder público, como acabar com os lixões, fazer campanhas educacionais e criar centros de triagem. Muda a vida das empresas, estabelecendo o conceito de logística reversa que as torna responsáveis por recolher o lixo que produzem. Garante até o trabalho dos catadores, atores fundamentais nesta novela.
Para o cidadão, sobraram duas funções. A primeira é bem simples: separar o lixo. De um lado, papel, plástico, vidro e metais. Do outro, resíduos úmidos, restos de comida e de jardins. A outra atribuição é a de cobrar. Exigir o cumprimento da lei. Se nada acontecer, resta esperar. Afinal de contas, quem esperou vinte anos para ver a lei ser aprovada, pode esperar mais dez ou vinte para que ela entre em vigor.
Agostinho Vieira
Diretor de jornal e rádios das Organizações Globo, também é blogueiro e colunista em assuntos de meio ambiente.
 

quarta-feira, janeiro 16, 2013

Adeus, Lula

Por Marco Antônio Villa 
 
A presença constante no noticiário de Luís Inácio Lula da Silva impõe a discussão sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com um ex-presidente. Dos quatros que estão vivos, somente um não tem participação política mais ativa. O ideal seria que após o mandato cada um fosse cuidar do seu legado. Também poderia fazer parte do Conselho da República, que foi criado pela Constituição de 1988, mas que foi abandonado pelos governos ─ e, por estranho que pareça, sem que ninguém reclamasse.
Exercer tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer brasileiro. Continuar na arena política diminui a sua importância histórica ─ mesmo sabendo que alguns têm estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney, ou Fernando Collor. No caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente estar participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um misto de Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar e muito menos vivamos sob um regime totalitário.
As reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma Rousseff são, no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de publicizar ao máximo todos os encontros. É um claro sinal de interferência. E Dilma? Aceita passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos envolvendo as eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de que o PT criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do Planalto para despachar o expediente e cuidar da máquina administrativa, funções que Dilma já desempenhava quando era responsável pela Casa Civil; outro, permanece em São Bernardo do Campo, onde passa os dias dedicado ao que gosta, às articulações políticas, e agindo como se ainda estivesse no pleno gozo do cargo de presidente da República.
Lula ainda não percebeu que a presença constante no cotidiano político está, rapidamente, desgastando o seu capital político. Até seus aliados já estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas metáforas, das piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa. A cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram demonstrações inequívocas de que ele não mais arrebata multidões. E, em especial, o comício de Salvador é bem ilustrativo. Foram arrebanhadas ─ como gado ─ algumas centenas de espectadores para demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era evidente. Os “militantes” estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam e receber os 25 reais de remuneração para assistir o ato ─ uma espécie de bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi patético.
O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua vontade. É feio. Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir: 1. Cinco partidos para assinar uma nota defendendo-o das acusações de Marcos Valério; 2. A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um simples artigo de jornal; 3. Ministros do STF antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?
O ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou. Não reconhece que, como tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O que ele fala, não mais se realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem mágicos e não produto de uma sociedade despolitizada, invertebrada e de um fugaz crescimento econômico. Claro que, para uma pessoa como Lula, com um ego inflado durante décadas por pretensos intelectuais, que o transformaram no primeiro em tudo (primeiro autêntico líder operário, líder do primeiro partido de trabalhadores etc, etc), não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como diria um velho locutor esportivo, “não adianta chorar”. Agora suas palavras são recebidas com desdém e um sorriso irônico.
Lula foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer que Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do ex-presidente. E ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu pela política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da ousadia, se ele é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no quarto andar do Palácio do Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?
Mas, falando sério, o tempo urge, ex-presidente. Note: “ex-presidente”. Dê um tempo. Volte para São Bernardo e cumpra o que tinha prometido fazer e não fez. Lembra? O senhor disse que não via a hora de voltar para casa, descansar e organizar no domingo um churrasco reunindo os amigos. Faça isso. Deixe de se meter em questões que não são afeitas a um ex-presidente. Dê um bom exemplo. Pense em cuidar do seu legado, que, infelizmente para o senhor, deverá ficar maculado para sempre pelo mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de cobertura, na Avenida Prestes Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde sua história teve início. E, se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço sincero da sua vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a empáfia, a soberba. Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao Brasil.

Marco Antonio Villa é historiador e colunista do jornal "O Globo". Possui mestrado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1989) e doutorado em História Social pela USP (1993). Atualmente é professor da Universidade Federal de São Carlos.

terça-feira, janeiro 08, 2013

Nós e a Venezuela


Por Fernando Gabeira

A posição do Brasil sobre a posse de Chavez na Venezuela foi tomada após uma viagem de Marco Aurélio Garcia a Cuba.
Sem hesitar, Garcia se uniu aos chavistas e cubanos na decisão de desrespeitar o dia da posse, 10 de janeiro.
Os bolivarianos consideram a posse apenas uma formalidade. E Garcia, por sua vez, admite a ausência temporária do presidente eleito, mesmo antes de tomar posse.
A regra é clara, como diz o comentarista de televisão Arnaldo Cesar Coelho. O presidente eleito precisa tomar posse dia 10.

Duas coisas chamam a atenção. Não está bem explicada ainda a importância de adiar a posse, pois ao que tudo indica Chavez não voltará ao governo.
Cabello presidiria, haveria eleições e, possivelmente, Nicolás Maduro venceria. Deve haver contradições internas ao próprio chavismo, empurrando a posse para adiante, apesar da lei. Maduro não confia em Cabello que não confia em Maduro.
Por outro lado, chamam também a atenção a pressa e solidão com que Marco Aurélio Garcia define a posição brasileira. Parece que ela a concebeu em Cuba e parece também que nessas questões Havana é a capital do continente.
Os jornais venezuelanos estampam hoje a interpretação brasileira e parece que foi o único país , até agora, que realmente tomou posição sobre a posse de Chavez.
Não existem consultas. Não existem mais audiências no parlamento. A política externa oscila de acordo com a tendência ideológica do PT: no Paraguai houve golpe; na Venezuela é só uma prorrogação perfeitamente legal da posse de Chavez.
É o caminho da perda da credibilidade. Maquia-se tudo, do orçamento à constituição venezuelana.
Na semana passada, Dilma dizia que era ridículo falar em racionamento de energia. Agora, convoca uma reunião de emergência para tratar do tema e evitar o pior.
O desprezo pela coerência é muito comum em governos autoritários. Ou então em governo que consideram o apoio dos mais pobres um passaporte para qualquer política.
Somos populares, logo somos onipotentes-parecem pensar os petistas. E além do mais, quem se preocupa com política externa, além da mídia golpista e elite reacionária?